Prof. Mário Maestri, podias falar um pouco sobre o nascimento deste livrinho pioneiro no Brasil, publicado, em primeira edição, em 1988? Todo livro tem sua história. A de História da África Negra Pré-colonial é algo longa. Na Bélgica, no meu quinto ano de exílio político, concluí, em 1975, na Universidade Católica de Louvain, o curso de graduação em História, que iniciara na UFRGS e seguira no Instituto Pedagógico da Universidade de Chile, durante o governo da Unidade Popular, que tive que interromper devido ao golpe militar de 1973. Em Louvain, ao completar o curso de graduação, cursei algumas disciplinas sobre a história da África Negra Pré-Colonial, no Centro de História da África daquela universidade, ministradas pelo africanista Jean-Luc Vellut. O período pré-colonial é o que precede a divisão do continente pelas nações imperialistas a partir de meados do século 19. Na hora de escolher o tema para a dissertação, fui, um pouco, forçado a escolher como objeto de meu trabalho “A agricultura africana nos séculos XVI e XVII no litoral angolano”, que concluí em 1977. Segundo a historiadora Mariana Schlickmann, teria sido a primeira dissertação acadêmica sobre a África Negra Pré-Colonial defendida por brasileiro. Propus a Jean-Luc Vellut, meu orientador, inutilmente, trabalhar sobre o tráfico de africanos e africanas escravizados naquela região em direção das Américas.