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Filhos de Cã, filhos do Cão. O trabalhador escravizado na historiografia brasileira


Link [2022-03-29 22:31:54]



Gregorio Carboni Maestri* Desde que sou gente lembro de meu pai trabalhando. Ele não era como os outros pais. Ele era de esquerda, e, os outros, indiferentes à ditadura. Eu sonhava em ter um papai com gravata. Mas ele não usava gravata. Os pais dos meus amigos iam para o trabalho de gravata. O meu ficava sentado escrevendo, da manhã à noite, sobre a escravidão. Nada muito entusiasmante para uma criança. Em casa, eu me vestia de super-homem, com uma toalha como capa. Quando se desatava, eu entrava no escritório e o interrompia, para que me amarrasse a toalha ao pescoço. O escritório era um mundo à parte: na parede havia gravuras bizarras. Eu tentava não olhar. Mais tarde, entendi que eram plantas de barcos negreiros.              Vivíamos em um condomínio, a Equitativa, de gente de esquerda, entre os mais seguros do Rio de Janeiro, graças ao bom convívio a comunidade do morro que o rodeava. Os moradores da favela usavam as infraestruturas do condomínio: rampa de acesso, parada de ônibus, etc. Em troca, vivíamos em uma santa paz. Um sucesso! Sobretudo para as crianças : brincávamos na rua, o dia inteiro, às vezes com os meninos do morro, sem pais preocupados.  Coisa rara no Rio de Janeiro. Um aparente multirracialismo com limites ideológicos. 



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