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Quem se comove com a morte de Priscila Diva?


Link [2022-03-27 01:15:57]



Em vez de estar escrevendo este texto, eu esperava ver uma multidão reunida cobrando justiça pela morte de mais uma mulher trans: Priscila Santos. Conhecida como Priscila Diva, tinha 29 anos, nasceu e cresceu no mesmo lugar que eu: Perus, periferia de São Paulo. O mesmo lugar que não impediu que Priscila entrasse para a triste estatística de pessoas trans que não chegam aos 35 anos de idade. Para a triste estatística do país que mais mata pessoas trans no mundo. Nesta quinta-feira (24), amigos, amigas e a família de Priscila se despediram dela no Cemitério Dom Bosco, também em Perus. No passado, este cemitério foi o destino final de diversas vítimas da Ditadura Civil-Militar em uma vala clandestina comum. Priscila foi encontrada morta na última terça-feira (22) no município de Mairiporã, na região metropolitana de SP. Na quinta-feira (17), ela saiu de casa por volta das 21h, horário em que costumava trabalhar. Diferente dos outros, nesse dia Priscila deixou a casa apenas de chinelo, short e top, sem celular ou documentos. Como lembrou sua mãe durante o velório, fez o de sempre: "deu uma volta, jogou o cabelo e foi". Naquela quinta, foi vista pela última vez na Rua Mogeiro, com a Av. Dr Silvio de Campos, também em nosso bairro. "Nós ficamos atrás dela, perguntando para muitas pessoas", conta a irmã, Suellen Teixeira, que chegou a ir até hospitais e publicar anúncios de busca nas redes sociais. Infelizmente, foi encontrada morta em Mairiporã e levada para o Instituto Médico Legal (IML) do município vizinho, Franco da Rocha. "O caso é investigado pela Delegacia de Franco da Rocha. A equipe da unidade trabalha para elucidar os fatos e prender o autor. Mais detalhes serão preservados para garantir a autonomia do trabalho policial", disse em uma nota curta e genérica a Secretaria de Segurança Pública do estado de São Paulo, enquanto eu ainda estava no cemitério esperando o enterro. A família também vem tentando desmentir as notícias falsas sobre o estado que seu corpo foi encontrado. "Meu marido e meu irmão reconheceram o corpo. Ela não teve o cabelo raspado, nem suas partes íntimas mutiladas como tem sido falsamente disseminado pelo bairro", aponta a irmã Suellen, que exige o mínimo de respeito neste momento de tanta dor para a família. Democracia para quem? Daqui a alguns dias, completam-se 58 anos do Golpe de Estado. Faz mais de 30 que a tivemos a reabertura da democracia. E eu me pergunto que democracia é essa que vivemos, onde mulheres como a Priscila são vítimas de ódio pelo simples fato de serem quem são? Eu realmente quero acreditar que a morte de Priscila não fosse apenas mais uma nota de uma assessoria de imprensa, que as vozes e cartazes de seus amigos serão ouvidos: justiça para Priscila, justiça para Priscila. Leia mais (03/26/2022 - 13h33)



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